Cientistas trazem espécie de lobo extinta há 10 mil anos. Estamos brincando de Deus?
Colossal Biosciences afirma trazer de volta o lobo-terrível: ciência, polêmica e futuro da conservação
4/10/2025
A empresa americana Colossal Biosciences anunciou, no dia 7 de abril, o nascimento dos que seriam os primeiros animais “deextintos” do mundo. Segundo a companhia, os filhotes recriados pertencem ao lobo-terrível (Aenocyon dirus), espécie extinta há mais de 10 mil anos.
Em um vídeo publicado no X (antigo Twitter), é possível ouvir os uivos dos dois primeiros exemplares. Com pelagem branca e traços robustos, os lobos foram batizados de Rômulo e Remo, uma referência à lenda da fundação de Roma. Em janeiro deste ano, uma terceira filhote nasceu: Khaleesi, nome inspirado na série Game of Thrones.
Como isso foi possível?
O processo começou com a extração de DNA de fósseis milenares encontrados nos EUA. Com esse material, os cientistas da Colossal sequenciaram o genoma do lobo-terrível e compararam com o de uma espécie viva com parentesco genético: o lobo-cinzento (Canis lupus).
Com base nas semelhanças e diferenças genéticas, os pesquisadores identificaram 14 genes principais que precisariam ser editados para que características como o porte físico, pelagem e vocalizações do lobo-terrível pudessem ser replicadas.
Usando a tecnologia CRISPR, a equipe realizou 20 modificações genéticas em células progenitoras do lobo-cinzento. Essas células, com o DNA alterado, tiveram seus núcleos inseridos em óvulos de lobo com os núcleos removidos. Os embriões foram então gestados por uma cadela doméstica — que deu à luz os primeiros exemplares da espécie "revivida".
Os filhotes estão atualmente em uma reserva privada nos Estados Unidos, cuja localização é mantida em sigilo para sua proteção. Não há planos de soltura na natureza ou de reprodução entre os lobos neste momento.


Por que ressuscitar espécies extintas?
A Colossal Biosciences defende que a chamada “deextinção” pode ser uma ferramenta essencial para lidar com a atual crise de biodiversidade. Estima-se que até 30% da diversidade genética global poderá ser perdida até 2050, devido à ação humana e às mudanças climáticas.
Segundo a empresa, restaurar espécies extintas pode ajudar a reequilibrar ecossistemas. Grandes predadores, como o lobo-terrível, têm papel fundamental no controle populacional de outras espécies, o que contribui para um ambiente mais saudável e dinâmico.
Beth Shapiro, uma das cientistas envolvidas no projeto, afirmou à revista Time que essa tecnologia representa um “imperativo moral”. Para ela, se a humanidade foi responsável por extinguir tantas espécies, agora tem o dever de usar seu conhecimento para tentar reverter parte desse dano.
Um avanço promissor ou um alerta?
Apesar do entusiasmo, o projeto levanta debates éticos e ecológicos. Seria possível recriar verdadeiramente uma espécie extinta? E quais os riscos de reintegrá-la ao meio ambiente atual?
Enquanto essas questões continuam em aberto, a Colossal Biosciences segue com planos ambiciosos: além do lobo-terrível, pretende também trazer de volta o mamute-lanoso, o dodô e o lobo-da-tasmânia.